sábado, 2 de março de 2013

A história de muitas

O som de seus passos no piso de concreto não era mais forte do que as batidas do seu coração. Não ia só, levava consigo a mágoa, a dor e o medo. Algumas palpitações adiante, o encontrou sentado em um banco de madeira, com toda a sua segurança masculina dos 20 e poucos.

- Então, estou aqui - disse, com medo que seu nervosismo fosse desmascarado.
- Estou vendo.

Olharam-se por alguns segundos, desafiando um ao outro com as lâminas do silêncio.

- Por que não respondeu minha mensagem ontem? - Inquiriu o rapaz.
- Por que não respondeu todas as mensagens que te mandei durante a semana?
- Estava dormindo ou não vi chegar.

Ela ergueu as sobrancelhas, acenando com a cabeça.

- E você?
- Estava dormindo ou não vi chegar - respondeu, simplesmente.
- Não faça joguinhos comigo - esbravejou o rapaz - detesto seus dramas. Estou aqui agora, não estou?

Ela refletiu por alguns segundos, tentando organizar os pensamentos furiosos e desordenados que relampejavam em sua mente.

- Está, mas é como se não estivesse. Porque quando olha para o lado, sei que está pensando em um milhão de coisas que poderia fazer. E essas coisas não me incluem.
- Como você sabe que não te incluem?
- Não me inclui quando sou a última tarefa do seu dia. Não me inclui quando sai com seus amigos e não me convida. Não me inclui quando me informa os vários compromissos que você terá. Não me inclui quando age como se estivesse me fazendo um favor ao estar comigo. Não me inclui quando você se acha o melhor cara do mundo por ter dedicado duas horas para mim. Não me inclui quando não se importa com os meus sentimentos.

Ela parou para respirar. Seu coração martelava ainda mais forte no peito. Sentia-se como quem participa de uma prova de corrida. Mas a faixa ainda estava longe.

- Você está exagerando. Preciso de um tempo para os meus amigos. Para o meu trabalho! Para mim. Para minha família.

Ela fechou os olhos. É claro que não era parte daquilo que ele chamava de família. Tola.

- Mas eu amo você - disse ele, com veemência.

- Isso que você chama de amor, eu chamo de migalhas. E não preciso delas.

Virando as costas, caminhou sem olhar para trás. O coração ainda queria abandonar o peito, mas a consciência estava tranquila.

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