Caros leitores silenciosos,
hoje vou contar como é possível restaurar o futuro resgatando o passado. Fiz
essa descoberta quando participei de um treino de esgrima medieval histórica.
Tentarei ser breve.
Cheguei às nove e meia da manhã
em uma das praças da UNICAMP, o grupo já estava reunido em uma “clareira” no
centro do lugar, todos os integrantes em silêncio, ouvindo atentamente o que
seu líder tinha a dizer.
Estabanada como sou, cheguei
fazendo barulho e me sentando ao lado de um integrante do grupo, por sinal
amigo meu, que olhou assustado para mim e disse: “Senta pra lá, atrás daquele
menino. Precisamos ficar alinhados”. “É meu primeiro dia”, respondi suplicante.
O garoto hesitou. Sem esperar resposta, pulei para o lado e sentei aonde
deveria sentar. Aprendi em meus livros que quando você entra em uma casa que
não é sua, você deve seguir as regras dela.
O líder estava falando sobre a
programação dos próximos treinos. Rapidamente, peguei meu caderninho e comecei
a anotar, contudo, ao receber olhares feios do meu namorado, o responsável pela
minha presença ali, guardei tudo discretamente. É difícil não agir como
jornalista em lugares tão cheios de novidades!
Quando a reunião terminou, fui
cumprimentar o líder do clã. Dimas tem 35 anos e é o tipo de pessoa em que a
gentileza e a tranquilidade parecem transbordar, é fácil e agradável conversar
com ele. Disse-me para participar do treino e ficar à vontade que mais tarde me
daria uma entrevista. Fiquei satisfeita, porque queria mesmo participar.
Segui com o grupo para o campo
aberto, que se organizou rapidamente em algumas fileiras alinhadas. Ali, o
alinhamento é coisa séria! Eu estava feliz na minha posição sendo a ultima da
fileira do meio, até um garoto gritar: “Ei, novatos ficam na frente!”. Desejei
ser engolida pelo chão naquele momento. Já passei da idade de me importar com
esse tipo de apelido, mas “novato” me pareceu uma palavra forte e
discriminatória naquele momento. Todavia, dei de ombros e fui para o segundo
lugar que alguém me cedeu.
Começamos com uma sessão de
alongamentos, coisa que eu adoro fazer. E depois passamos a praticar para uma
série de movimentos de esgrima com um bastão, momento em que minha falta de
coordenação ficou evidente. Droga, eu estava tentando disfarçar!
Olhando o redor, foi difícil não
pensar que o mundo tinha se tornado diferente. É como se eu fosse uma
personagem das minhas histórias. Ainda não consegui me adaptar a isso, mas
continuo achando fascinante.
Quando o alongamento terminou,
grupos foram formados de acordo com a posição de cada um no clã, porque é claro
que existe uma hierarquia, assim como existia na época medieval. Não vou citar
agora qual é a hierarquia deles, que vem da cultura nórdica medieval, contudo é
algo como soldado – cavaleiro – cavaleiro da guarda real – senhor comandante –
mestre, e assim vai.
Fiquei no grupo dos novatos, é
claro. Aprendi e pratiquei os golpes básicos, sempre enchendo meus companheiros
de perguntas como: “Por que você se interessou por esgrima medieval história?”,
“Quem te trouxe aqui?”, “O que você esperava encontrar?”. Coisas que pudessem
contribuir para a minha matéria.
Entretanto, foi só quando
conversei com os fundadores do clã que compreendi o que a união de todo aquele
pessoal significa na vida de cada um e foi também, quando entendi o que é
exatamente a esgrima medieval histórica. Mas isso vai ficar para a minha
matéria, é claro! Vocês não achavam que eu ia entregar o ouro, não é?
A única coisa que posso
revelar é que, para muita gente do grupo, o treino mudou seu modo de encarar a
vida e de lidar com problemas. As lições que o clã passa para cada um, vai além
de técnicas de artes marciais, esgrima e história. As pessoas aprendem a ter
respeito pelo próximo, a ter disciplina e a ter um objetivo.
Desejo que todos um dia possam
ter uma experiência como essa. Aqueles garotos, homens, garotas e mulheres que
fazem parte do clã, são pessoas de sorte.
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